Vida longa para as práticas esportivas: esse era o sonho do grupo de ingleses que fundou em Niterói o Rio Cricket and Athletic Association, em 15 de agosto de 1897. Numa época em que frequentar clubes ainda era uma novidade trazida pelos estrangeiros que aqui vinham trabalhar, acreditava-se que a longevidade destas agremiações estava diretamente relacionada à instalação de sua sede e seu campo de terreno próprio. A escritura de compra de um terreno nos “arrabaldes de Santa Rosa e Icarahy”, lavrada em 16 de novembro de 1897, consagrava a iniciativa daqueles ingleses de abandonar a então instabilidade do clube carioca de que eram sócios para investir na solidez de uma associação que jamais sucumbiria pela falta de campo próprio.
Liderados por George E. Cox e Basil Freeland, ingleses e descendentes de ingleses que residiam no Rio de Janeiro, como R. A. Brooking, H. L. Wheatley, T. D. Bunn, Frank S. Youle, Felippe Henrique Carpenter, W. H. Ashbrook, Robert e Peter C. Morrisy, não hesitaram em atravessar a Baía de Guanabara para fixar em “Nichteroy” as fundações de seu projeto de clube, um espaço onde poderiam praticar o cricket e o tênis de grama, e ainda encontrar amigos para um chá ou whisky. Mais do que garantir a prática de esportes e o convívio social que lhes eram tnao caros, queriam ter a certeza de que poderiam desfrutar destas alegrias durante toda a vida e ainda deixar para as gerações futuras o prazer destes costumes ingleses.
Transcorridos 117 anos desde a fundação, o Rio Cricket and Athletic Association, hoje Rio Cricket Associação Atlética, mantém o frescor de uma agremiação que soube renovar-se com o tempo, sem perder os ideais dos fundadores e sem esquecer a força da tradição. Depois de assistir a duas viradas de séculos; de sofrer o impacto de duas guerras mundiais sobre um quadro social repleto de estrangeiros; de sobreviver às pressões dos processos de urbanização e modernização da cidade de Niterói; de ser forçado a abrir mão de parte de seu terreno; e de experimentar a transição da administração dos ingleses para a dos brasileiros (que resultou inclusive na tradução de seu nome), o clube continua ostentando no coração da cidade o verde de seu campo majestoso – outrora cenário de longas partidas de cricket -, o estilo despojado de sua sede, a pujança da mata que recobre dois terços de sua área, e, principalmente, a paixão pelos esportes.
Hoje, o Rio Cricket Associação Atlética é o terceiro clube destinado à prática de esportes mais antigo em funcionamento em Niterói, atrás apenas do Grupo de Regatas Gragoatá e do Clube de Regatas Icaraí, ambos fundado em 1895.
Os ingleses já não são maioria e o cricket não é mais jogado, mas o legado dos fundadores continua vivo: o whisky deu lugar à cerveja e os sócios brasileiros dão a vida por outro esporte bretão, o futebol. Dentre os sócios, alguns descendentes dos que fundaram o clube, muitos sobrenomes estrangeiros e uma maioria de brasileiros. A Union Jack, bandeira inglesa, trêmula no mastro, altiva e imponente, ladeada pela bandeira do Brasil e pela do Rio Cricket, que adotou o verde e o amarelo em homenagem ao país que tão generosamente acolheu os fundadores e os primeiros sócios estrangeiros.